Reduzir a maioridade penal é reconhecer a
incapacidade do Estado brasileiro de garantir oportunidades e atendimento
adequado à juventude, seria um atestado de falência do sistema de proteção
social do País.
Defender a diminuição da maioridade penal "no calor da emoção" não garante o combate às verdadeiras causas da violência no país. A certeza da punição é o que inibe o criminoso, e não o tamanho da pena.
É uma medida ilusória que contribui para que tenhamos criminosos
profissionais cada vez em idade mais precoce, formado nas cadeias, dentro de um
sistema prisional arcaico e falido. No Brasil existe a certeza da impunidade,
já que apenas 8% dos homicídios são esclarecidos. Precisamos de reestruturação
das polícias brasileiras e melhoria na atuação e estruturação do Judiciário e
não de medidas que condenem o futuro do Brasil à cadeia.
O índice de reincidência no sistema prisional brasileiro, conforme dados oficiais do Ministério da justiça, chega a 60%, o que, indica "claramente" que se trata de um sistema incapaz de resolver a situação. Já no sistema socioeducativo, por mais crítico que seja, estima-se a reincidência em 30%.
O índice de reincidência no sistema prisional brasileiro, conforme dados oficiais do Ministério da justiça, chega a 60%, o que, indica "claramente" que se trata de um sistema incapaz de resolver a situação. Já no sistema socioeducativo, por mais crítico que seja, estima-se a reincidência em 30%.
Se
colocar adultos nas cadeias de um sistema falido não resolveu o problema da
violência, e essas pessoas voltam a cometer crimes após ficarem livres, por que
achamos que prender cada vez mais cedo será eficiente?
Modificar
a legislação atual para colocar jovens na cadeia reforça a ideia do
"encarceramento em massa" o que, não é eficiente. Os jovens
brasileiros figuram mais entre as vítimas da violência do que entre os autores
de crimes graves.
Os
números da Fundação Casa, em São Paulo, mostram que latrocínio e homicídio
representam, cada um, menos de 1% dos casos de internação de jovens para cumprimento
de medida socioeducativa, sendo a maioria dos casos de internação por
roubo e tráfico de drogas. Além disso, o último Mapa da Violência indica que a
questão a ser encarada do ponto de vista da política pública é a mortalidade de
jovens, sobretudo, dos jovens negros, e não a autoria de crimes graves por
jovens.
Segundo
o último Mapa da Violência, de cada três mortos por arma de fogo, dois estão na
faixa dos 15 a 29 anos. De acordo com a publicação, feita pelo Centro
Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais, os jovens representam 67,1% das vítimas de armas de fogo no
País.
Precisamos
mudar o foco do discurso, elaborar melhor nossos argumentos! Concentrar em
soluções imediatistas é tentar corrigir um erro cometendo outro. Apenas
reivindicar a redução da maioridade penal é sustentar um discurso vazio, que no
fundo quer dizer que “eu não quero perto de mim o criminoso, mas me importo
muito pouco com as causas desse cenário e muito menos com o que será desse
jovem”. É preciso que os setores organizados da sociedade de fato se
comprometam na busca de soluções para reduzir a violência e para permitir que
os jovens vivam em toda a sua plenitude, e como cidadãos, essa fase tão
importante de suas vidas.
Gabriel
Villarim é Conselheiro Tutelar da Asa Norte