segunda-feira, 20 de junho de 2011

Corda Bamba

Artigo J. O Globo 18/06/2011

Em vários locais, a juventude está indo às praças; no mundo árabe, lutando pela democracia, acampados nas praças, como a Tahrir, no Egito; nos países europeus, por emprego, como na Praça Catalunha, em Barcelona, e no Portal Del Sol, em Madri. Tanto no mundo democrático da Europa, quanto no Egito sem democracia, a juventude está carente de mudanças, descontente com os rumos da sociedade em que vive. Seja por falta de democracia, de emprego, de paz, de lazer ou de cultura.

No Brasil isso não está acontecendo. Aparentemente, nossos jovens estão contentes, mas, na verdade, eles não percebem a corda bamba por onde caminham ao longo da vida.

A infância, a adolescência e a juventude brasileira caminham sobre uma corda bamba, da qual milhões vão caindo antes mesmo de chegar à idade adulta.

Logo no início da vida, crianças caem da corda bamba por falta de uma UTI infantil ou porque as mães são desprezadas pelos pais e terminam abandonando o recém-nascido. Milhões de crianças, que sobrevivem às primeiras horas de vida, continuam na corda bamba por falta de comida, de brinquedos, de estímulos educacionais, sem escolas maternais e sem o acompanhamento de mães preparadas ou de creches com qualidade. Caem da corda antes mesmo de começarem a caminhar.

Das que sobrevivem aos primeiros anos, milhões nem ao menos conseguem chegar à escola. Depois de caminhar alguns anos na corda caem logo depois, por não conseguirem entrar na escola, ficarem sem o desenvolvimento intelectual necessário e seguirem na vida sem as ferramentas básicas necessárias à vida moderna, tais como, emprego, renda e acesso a serviços essenciais.

Mesmo as que entram na escola, continuam caminhando sobre a corda bamba. A pobreza das famílias e a má qualidade da escola expulsam a maioria delas antes mesmo do fim do ensino médio. São derrubadas da corda, jogadas no chão, sem alternativas. Das que concluem o ensino médio, mais da metade não teve um ensino de qualidade e, por isso, não entrará no ensino superior, nem em um curso profissionalizante competente, ou entrará, mas abandonará o curso por incapacidade de segui-lo até o fim. Pode até obter um diploma, porém sem conhecimento superior e ficará sem emprego de nível e renda superiores.

Ao longo de todo esse tempo, e mesmo depois, essas crianças, adolescentes e jovens estarão em uma corda bamba que ameaça derrubá-las pela morte violenta antes do tempo, pela droga que age como o motor do balanço da corda por onde caminham os jovens.

Um amigo, uma decepção, uma cobrança, o simples trago em um cigarro errado ou num copo de bebida pode empurrar o jovem para a queda com uma pequena chance de recuperação.

Mesmo os que não caem por força do empurrão das drogas, caem pela ociosidade, sem escola e sem emprego.

Mas não é apenas a escola sem qualidade e a falta de renda da família que derrubam crianças. Os adolescentes e jovens de renda média e alta também caminham por uma corda bamba, pela falta de atividades e por causa de uma escola aparentemente boa, em comparação com as péssimas. Ou porque também correm o risco do consumo de drogas ou da droga do consumismo. Move a corda também a alienação da voracidade do superconsumo para aqueles que aparentemente chegaram ao outro lado, mas vivem sacrificando a vida para o enriquecimento sem valor existencial.

E quase sempre se endividando, seja pela dívida consigo mesmo, por não atender aos desejos de consumo de luxo, seja pelo endividamento com os bancos para poder comprar o luxo que deseja. Endividam-se pelos desejos de compras não realizadas ou com os bancos pelo financiamento para realizá-los.

Concorre para mover a corda a corrupção na política. Não apenas pelo desperdício de recursos públicos que vão para os bolsos de alguns, em vez de ir para as políticas públicas, com investimentos para os jovens. Pesam também a decepção e a alienação que excluem os jovens da participação política.

No Brasil, atravessar os anos antes da vida adulta é caminhar sobre uma corda bamba, balançando constantemente diante da omissão do setor público, da desarticulação das famílias, da necessidade de consumo, da violência da droga e, sobretudo, por falta do estável terreno da educação de qualidade assegurada a todos.

cristovam BUARQUE é senador (PDT-DF).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As PPJs e o papel da JSB-DF

           A juventude Brasileira viveu nesse último período e vive hoje o melhor momento de sua história no que diz respeito às pautas de PPJs, tiveram vários avanços importantes nessa pauta tanto na formulação dos marcos legais quanto na implementação das políticas.

O Governo do presidente Lula foi um marco importante para a juventude brasileira em vários sentidos, nele tivemos a criação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude, espaços reais de discussão, onde toda e qualquer organização da Sociedade brasileira e do Governo passaram a discutir e implementar as PPJs no Brasil.

Outros avanços importantes também foram conquistados no Congresso Nacional. A aprovação da PEC da Juventude (que já esta promulgada) que é a garantia constitucional dos diretos dos Jovens, a aprovação na comissão especial da Câmara dos Deputados, do Estatuto da Juventude, que é o marco regulatório da Juventude Brasileira e também o Plano Nacional da Juventude, que estabelece metas decenais para os ministérios que destinam ações e recursos à essa faixa da população e para governos estaduais e municipais, que terão dois anos para elaborar seus planos locais. Hoje esses dois projetos encontram-se prontos para serem votados no Plenário da Câmara dos Deputados.

Esses são alguns exemplos de ações e conquistas nesse período, mas não se pode esquecer de um dos momentos mais importantes que a juventude brasileira teve que foi a 1ª Conferência Nacional de Juventude que é um espaço de diálogo entre o poder público e a sociedade sobre os desafios da construção de políticas públicas para o segmento juvenil e as alternativas que devem ser adotadas pelos governos para responder a elas.

O Governo da presidenta Dilma começa com um grande desafio, que é a realização da 2ª Conferência Nacional de juventude, que acontecerá em Brasília em dezembro deste ano. Mais um momento para construção da pauta de PPJs que ocorre no início de seu mandato, quando o Governo e a sociedade terão tempo para concretizar sua implementação.

No Governo do Distrito Federal não é diferente, a eleição de Agnelo Queiroz trouxe um novo momento para as PPJs, começando pela criação da Secretaria de Estado da Juventude. Os desafios estão postos, cabe agora à juventude do DF se organizar para discutir e formular suas pautas.

No caso do Partido Socialista Brasileiro, é através da Juventude Socialista Brasileira, que é um órgão de apoio do Partido, que serão discutidas essas pautas. Porém, o atual momento da Juventude Socialista Brasileira do DF é de preocupar, discussões são feitas sem o menor embasamento político, critério e racionalidade com o processo político de juventude que o Brasil e o Distrito Federal vivem hoje.

Encontros foram feitos para se discutir, única e exclusivamente, retirada ou não de uma direção provisória existente e a escolha de uma outra, o que é legítimo dentro de um processo político partidário, só precisa ser feita de forma racional e inteligente, para que a organização continue contribuindo com o processo de PPJ.

Preocupante é o fato de essa ser a única pauta de pessoas que se colocam a disposição de “organizar” a JSB-DF, esquecem que os processos políticos estão colocados e se o partido não se inserir o bonde passa e essa “organização” não atingirá seu objetivo.

Fazer política partidária é, além de outras coisas, a ocupação de espaços no cenário político e no caso da juventude não é diferente, só que isso não pode ser o fim e sim o começo de todo esse processo, para que se possa contribuir com a PPJ.

No último sábado dia 11/06 foi constituída pelos jovens filiados ao PSB, junto com o Núcleo do DF da Fundação João Mangabeira, a nova executiva provisória da Juventude Socialista Brasileira do DF. Processo este, que é de assustar, pois, foi feito sem nenhum debate político, houve apenas uma preocupação com o preenchimento dos novos cargos disponíveis.

Colocar o debate da forma como foi colocado é muito sério e chega, às vezes, a ser equivocado. Esquecer do processo de PPJs que está ao nosso redor, para pensar só no interno de ocupação de cargos é um erro. Esquecer o que já foi feito dentro dos processos locais e nacionais é afirmar que a juventude do PSB é um fim em si mesma.

Existem tarefas de construção do processo nos âmbitos local e nacional, que vinham sendo executados, como por exemplo: participar da coordenação das campanhas majoritárias do DF; contribuir na coordenação da campanha presidencial; participar das campanhas proporcionais; além de construir PPJs no Conselho Nacional de Juventude, na construção das conferências Distrital e Nacional de juventude e na relação institucional da pauta de juventude com o Congresso Nacional.

E com toda a dificuldades as tarefas vinham sendo cumpridas, o que fez com que hoje a JSB-DF ocupe espaço na Direção Nacional da JSB, no Conselho Nacional de Juventude, nos mandatos de nossos parlamentares e no Governo.

Foi criada uma nova Executiva provisória da JSB-DF de forma atabalhoada e sem critério e discussão política, para cumprir uma agenda estratégica: Conferência Distrital de Juventude, Conferência Nacional de juventude, Congresso da UNE, Congresso da UBES, Congresso da JSB e PSB DF e Congresso da JSB e PSB Nacional.

Para se obter um bom desempenho nesse processo é necessário ter diálogos com as juventudes partidárias do DF, secretários Estaduais de juventude do PSB e executiva Nacional da JSB, pois o Congresso Nacional da JSB e a Conferência Nacional de Juventude ocorrerão no DF e fica a cargo da JSB-DF e representantes da Direção Executiva Nacional da Juventude Socialista Brasileira ter uma participação ativa na organização de nossas Bancadas Estaduais. Seria de extrema importância pra a organização e fortalecimento da JSB-DF que, pelo menos, a maioria dos membros escolhidos para compor a JSB-DF já tivessem relações com as organizações acima citadas.

O que preocupa nas decisões tomadas na referida reunião é que, dessa executiva de sete membros, só uma pessoa tem um pouco dessas relações, essa pessoa teria que aumentar a sua base de interlocução e os outros teriam que criá-la. Desse modo, até isso acontecer já se passariam todos os processos e a JSB-DF ficaria de fora.


Gabriel Villarim é Representante da Juventude Socialista Brasileira no Congresso Nacional